segunda-feira, junho 13, 2022

A PROPÓSITO DE AUTO-ESTIMA

 

Podes e deves cuidar da auto-estima do teu filho, enaltecendo as suas características, atitudes louváveis, comportamento honesto. Fá-lo da forma que o teu coração aponte, porque é bom atender ao que o coração nos diz, mas cuida de ouvir bem, não confundas os justos apelos com omissões e acrescentos que os ruídos do mundo provocam.

Dirás ao teu filho que, se ele prestar atenção aos sinais que a vida sempre nos faz, poderá ser tudo aquilo que inteligentemente queira e não protele; que a vontade, indo de mão dada com a vida, se deve alimentar de sentimentos e de razão.

Jamais lhe dirás, porém, que poderá ser um Beethoven ou um Shakespeare – eles já morreram, quem está vivo é o teu filho –, dirás antes que ele é, como todos somos, o despontar da luz de ímpar brilho que a vida acendeu para lhe alumiar os passos e aquecer os corações daqueles que o amam.

Se desde a mais tenra idade – ou mesmo antes que idade houvesse – lhe deste atenção, afecto, segurança e felicidade, não temas pelo que lhe digas, teme pelo que faças em desacordo com o que digas.

Dá-lhe o teu exemplo, mas não o queiras cópia tua nem lhe traces o destino compensador das tuas frustrações; não queiras realizar nele o que não conseguiste realizar na tua vida.

Não há duas gotas de água iguais. Não queiras impor-lhe um modelo pronto a usar, deixa que ele construa o seu próprio modelo, que mudará sempre que queira e possa, à medida que cresça e se descubra. E alegra-te com isto.

Não esqueças nunca as sábias palavras de Gibran: os nossos filhos não são verdadeiramente nossos, são filhos da ânsia da vida por si própria.

quinta-feira, maio 19, 2022

A REVISTA NOVA ÁGUIA E O BOLETIM DA ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA.

 

Mão amiga, que não recordo qual, porque muito tempo se passou, fez-me chegar à mão a edição de 2012, que só agora tive ocasião de ler e de perceber porque me foi remetido. Nesta edição fazem-se imensas referências ao número 7 da Revista Nova Águia, de 2011, e a página 251 o sociolinguista brasileiro Professor Dino Preti refere-se assim a um texto meu, inserido na referida NA:

«O segundo apartado da revista e tema central do mesmo, leva por título “Sobre Fernando Pessoa”. São um total de vinte e três trabalhos que versam sobre aspectos filosóficos e literários da vida e da obra do nosso grande poeta e pensador.

De todos os trabalhos, quero salientar o texto de Abdul Cadre “Um Fernando Pessoa” no que desvenda certos aspectos psico-filosófico-literários da obra e a complicada personalidade pessoana: o seu esoterismo surgido dum desequilíbrio psiquiátrico por ele reconhecido e mesmo aceite com fim criativo; desvenda também elementos biográficos, a sua grande obra não publicada, do seu gosto pelo ocultismo, a sua solidão voluntária, a sua vida e formação em África do Sul, o seu posicionamento liberal-conservador e o seu fundo nacionalismo português, nacionalismo mítico, contrário ao catolicismo, mas pró-sebastianista. O mito de Pessoa tem três faces para o autor deste texto: uma rosacruciana e templária; uma segunda aproximação ao mito vem dada pela sua obra “Mensagem” na que Abdul Cadre joga com a numerologia e o seu simbolismo, assim como pela sua simbologia enriquecida com sufixos que lhe dão sentidos diversos. Há mais uma terceira aproximação ao mito que tem a ver com os seus heterónimos e os seus significados ocultos. Tudo isto conjuga a espiritualidade pessoana baseada na ideia de religião dos portugueses (V Império, Império do Espírito Santo...), profetismo, esoterismo e iniciação. Igualmente expõe as vias para o progresso espiritual. Tudo sob critérios rosacrucianos».

Pelo que atrás refiro, é evidente quer não tive oportunidade de agradecer a referência do Professor Dino Preti, que naturalmente farei agora.



terça-feira, março 08, 2022

APONTAMENTOS DE CULTURA SUFI

 

1 - Em certa ocasião, Rabia deu três dirhams a um homem para lhe comprar um manto de que muito necessitava. O homem ia a sair, mas de repente voltou atrás e perguntou: "Senhora, que cor prefere?" Rabia respondeu: "Ainda não comprámos o manto e ele já é fonte de problemas. Devolve-me o dinheiro". Colhendo as moedas, arrojou-as ao Tigre.

 

2 - De Rabia disse Attar: «Soberana do lugar da sua reclusão, coberta com o véu da sinceridade, ardendo com o fogo do amor e do desejo, sedenta da Proximidade e do Respeito, abandonado na União, considerada pelos homens como outra Maria, pura como a própria pureza, assim foi Rabia».

 

3 - O poeta persa Attar, de seu nome verdadeiro Abu Hamid ibn Abdulbacar Ibraim, foi um dos grandes influenciadores da poesia sufi.

 

 

 

TRÊS PEQUENOS POEMAS DE RABIA

(Rabia al-'Adawiyya)

- Versão portuguesa de Abdul Cadre


1

«Meu Deus,

Todos os bens que me tenhas reservado

neste mundo dá-os aos teus inimigos

e quantos me reserves no outro,

dá-os aos teus amigos,

porque a mim Tu me bastas».

 

2

«Meu Deus, se te adoro por medo do Inferno.

queima-me nele.

Se Te adoro esperançada no Paraíso,

exclui-me dele.

Mas se Te adoro apenas por Ti mesmo,

não afastes de mim a Tua eterna Beleza.»

 

3

Amo-Te com dois amores:

um amor cheio de desejo,

e o outro digno de Ti

 

O amor feito de desejo

faz com que Te recorde a cada instante,

despojando-me de tudo que não és Tu.

 

O amor digno de Ti

afasta dos meus olhos os véus

para Te poder ver.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rabia al-'Adawiyya

quarta-feira, junho 30, 2021

LEGENDÁRIO ESSENCIAL ROSACRUCIANO

Este meu livro encontra-se de novo à disposição do público:

 

Link para a página do livro

https://publish.bookmundo.pt/books/249698

 

Webshop do autor

https://publish.bookmundo.pt/abdulcadre





domingo, janeiro 03, 2021

A PALAVRA TRANSIÇÃO

Vendas Novas, 3 de Janeiro de 2021

A Palavra transição, para além dos equívocos de que se reveste, tem um som muito desagradável, razão pela qual raramente a utilizo, e, quando o faço, é em meio que por norma o faz, não ia ser desmancha-prazeres, mas o facto é que não gosto desta palavra. Quanto a equívocos, o maior está em ela não declarar sem qualquer ambiguidade aquilo que pretende significar. Ora, acreditando-se que, na morte, há uma separação, um corte entre o biológico (o corpo) e o imaterial, chame-se-lhe alma ou o que quer que seja, porque o que importa reter é o fenómeno separação, não podemos falar de transição; se a alma (digamos assim) usa o corpo como vestimenta, ela não transita, senta-se à máquina de costura e faz um novo fato. Quanto ao corpo, não se usando o mecanismo purificador da cremação, degrada-se, apodrece, dá mau cheiro e os vermos, que são vida, encarregam-se de transformar a morte em pó, porque há um contrato natural com o planeta que nos permite a vida biológica, a terra paga-nos o sustento e nós compensamo-la com a devolução da tal vestimenta, que é o corpo.

A vida é a união de dois contrários: nascer e morrer. Nascemos e morremos; se isto sucede na tal rotatividade de que fala o budismo, é uma questão de crença, não de ciência. Uns crêem e outros não, e não podemos provar aos que não crêem a bondade das nossas crenças. A palavra desagradável transição tem sido esgrimida por esoteristas, não vindo mal ao mundo que a usem entre si, já usá-la em meio que ignora ou não crê na ideia que lhe vai agarrada pode envolver alguma petulância. O uso de exotismos é invariavelmente uma petulância.

No comércio da morte – e não restrinjo o âmbito apenas às agências funerárias, mas a tudo o que a envolve – há uma palavra muito usada para amenizar o que é tão doloroso para os que fazem o luto, é a palavra passamento, que envolve quase inconscientemente uma conotação religiosa: o corpo vai para a terra, mas a alma vai para o céu. Os que não choram podem até dizer: passou desta para melhor.

Em meios mais restritos do esoterismo e do ocultismo, especialmente entre s espíritas, há um termo muito usado, bem mais significativo, menos ambíguo e menos desagradável que transição, desencarnação, fulano desencarnou.

Costumo dizer aos crentes da grande panóplia das crenças, aos quais é comum um grande olvido: é que muito exigem que lhes respeitem as crenças e nunca lhes passa pela cabeça que o mesmo respeito é devido à descrença. Não somos mestres de ninguém e na vida só a própria vida é mestra; cada um de nós é uma experiência pessoal e intransmissível

sábado, novembro 07, 2020

O VIAJANTE INTERIOR

O VIAJANTE INTERIOR - I

Estava na NET a consultar catálogos de livros e deparei com algo de insólito: um pequeno livro eu – O Viajante Interior – aparecia referido no Google Books como estando disponível em papel (paper back) nas plataformas Amazon e Wook. Não está nem nunca esteve. Este livro está publicado apenas em e-book, pela Bibliomundi e é apenas nesta editora e nas suas lojas associadas que está disponível.

Todavia, quem tiver curiosidade em espreitar o conteúdo, poderá ler algumas páginas no Google Books.

O VIAJANTE INTERIOR – II

Menina e Moça [… … …] de Bernardim Ribeiro, presumida um judeu, sem dúvida um neopitagórico, que o mesmo será dizer-se, pelo contexto ibérico, um “alumbrado” – para quem não saiba ou não se lembre, é o termo castelhano para illuminati – , ele escreveu esta obra, onde abundam os condimentos gnósticos, já depois da condenação da heresia dos alumbrados pelo Édito papl de 1525.

… … … …

O meu destacado carinho pela Menina e Moça – menina, virgem, imaculada – para além de ser o mote para a ideia de viagem que pretendo desenvolver, deve-se a reconhecer nessa novela o meu cais de partida para a viagem de busca e descoberta dos gnósticos, dos sufiis e dos rosacruzes (ou rosacruciano, para os que preferem os dizeres de René Guénon). Com os primeiros, aprendi que a gnose contraria o gnosticismo, enquanto heterodoxia pagã que tende à multiplicação dos dogmas aleatórios, à proliferação de crenças de circunstância e à obstinação nos erros fundacionais; com os segundos, percebi que as religiões, por menos efémeras que pareçam, são um meio necessariamente precário, não um fim, porque por mais que segurem o homem – ou por isso mesmo –, dificilmente o elevam, e que o facto de se estar no mundo não implica pertencer-lhe; com os últimos aprendi que a lucidez e a busca constante é que permitem saber que a vida é um processo, não um acontecimento e que a razão deve ser uma ferramenta da inteligência, não o seu garrote.

E com tudo isto assim dito, bom será que fique evidente que não sei se aprendi convenientemente – seria muita pesporrência afirmá-lo – porque isto de navegar, seja no mar das águas seja no das ideias, tem muito que se lhe diga. Quem não sabe que, quando se busca a Índia, podemos antes encontrar a América?

Não foi o que aconteceu com Colombo?

segunda-feira, novembro 02, 2020

DA CRENÇA E DA DESCRENÇA

V. Novas 01 de Novembro de 2020

A crença é uma descrença na vida e no conhecimento, uma submissão da vida e da inteligência aos ditames da circunstância e das autoridades que a controlam.

Há muitas fábricas engajadas na produção da crença, e há crenças para todos os medos, angústias e frustrações, sendo as mais constantes e nefastas as que se constituem em igrejas, que reivindicam conhecimentos e poderes incontestáveis, vindos do alto. As igrejas fazem da ignorância virtude e do conhecimento pecado.

A crença e o seu subproduto, que é a descrença, são frutos venenosos da ignorância; o conhecimento mata a crença vagarosamente e incomoda a descrença na sua preguiça.

A crença é uma ignorância presunçosa e invariavelmente agressiva; como esconjuro do medo, é uma figa para a frente.

Quando acreditávamos que a Terra era plana e que para lá dos seus bordos (onde se acabava o mundo) só havia dragões, tínhamos um medo sério, verdadeiro e irredutível dos dragões, apesar de eles não existirem…

Quando aprendemos que tudo isso era falso, mas não o medo, continuámos a acreditar nisto e naquilo, na exacta medida da persistência da nossa ignorância.

ABDUL CADRE