V. Novas 01 de Novembro de 2020
A crença é uma descrença na vida e no conhecimento, uma submissão da vida e da inteligência aos ditames da circunstância e das autoridades que a controlam.
Há muitas fábricas engajadas na produção da crença, e há crenças para todos os medos, angústias e frustrações, sendo as mais constantes e nefastas as que se constituem em igrejas, que reivindicam conhecimentos e poderes incontestáveis, vindos do alto. As igrejas fazem da ignorância virtude e do conhecimento pecado.
A crença e o seu subproduto, que é a descrença, são frutos venenosos da ignorância; o conhecimento mata a crença vagarosamente e incomoda a descrença na sua preguiça.
A crença é uma ignorância presunçosa e invariavelmente agressiva; como esconjuro do medo, é uma figa para a frente.
Quando acreditávamos que a Terra era plana e que para lá dos seus bordos (onde se acabava o mundo) só havia dragões, tínhamos um medo sério, verdadeiro e irredutível dos dragões, apesar de eles não existirem…
Quando aprendemos que tudo isso era falso, mas não o medo, continuámos a acreditar nisto e naquilo, na exacta medida da persistência da nossa ignorância.
ABDUL CADRE