quarta-feira, maio 27, 2020

NOMENCLATURAS – EQUÍVOCOS E IMPRECISÕES

Vejamos alguns equívocos e imprecisões: os chamados planos de existência, por exemplo, propostos por algumas escolas ocultistas, que induzem certamente em erro os curiosos sem espírito crítico; tais planos não existem como lugares, mas apenas como modos de ser e de estar. Em boa verdade, só nos é lícito e produtivo falar de dois planos de existência: o plano material, onde desenvolvemos a nossa vida mundana, e um outro plano, que vulgarmente se designa por Além, mas pormenorizar o Além – e há demasiada gente a fazê-lo – das duas, uma: ou resultaria de um excesso de imaginação ou teríamos uma grande falta de humildade.

Seguindo o raciocínio havido para os planos, quando se fala de corpo astral, corpo mental, etc., não é de corpos verdadeiramente que se fala, apenas se usam imprecisões para facilitar o discurso. Imaginem agora que se facilitava de modo equivalente o discurso para ensinar física atómica ou química do carbono!...

Já imaginaram?

Um dos mais equívocos termos usado pelo ocultismo literário é o sacralizado EGO. Disparatadamente quer-se forçar a distinção entre EGO e EU, o que equivale a distinguir sol de astro-rei. Ego é a expressão latina para EU, de onde, aliás, a palavra «eu» deriva. Os termos «ego» e «eu» estão tão correcta, clara e eficazmente assentes e codificados pela Psicologia e pela semântica que o trabalho espúrio de os confundir só pode ter como consequência o descrédito de quem o pretende fazer, pela pouca ciência que assim demonstra.

Para nós, ego é tão simplesmente o conceito que qualquer indivíduo tem de si mesmo, o ser humano considerado como ente consciente de si e daquilo que o rodeia. Mesmo que se queira atender ao pensamento de Kant ou de Freud, pouco ou nada se sai daquilo que basilarmente qualquer dicionário regista. O mais que se divague é exercício ocioso. Mas não compliquemos, porque ninguém está impedido de acrescentar ao termo «eu» distinções e atributos julgados convenientes, como eu espiritual, eu transcendental ou similares.

NOMENCLATURAS – A CONSCIÊNCIA

Um termo muito usado, mas susceptível de muitos equívocos é o de consciência. É certo que a palavra é bastante polissémica, mas os esoteristas teriam muito a ganhar se usassem com mais denodo expressões como consciência superior, consciência cósmica sempre que se referissem à consciência que permite a sabedoria, como oposição ao uso em Psicologia de consciência conhecimento, que é aquela que usa os sentidos, age por comparação e se refere à capacidade de receber impressões do exterior e reagir em relação às mesmas. Em português, «consciente» tanto pode querer dizer «que sabe que existe» (autoconsciência), como «que sabe o que faz», que é cônscio, sabedor, ciente. É o «concienzudo» castelhano, que se pode traduzir por cuidadoso. E vale a pena lembrar que na língua castelhana, que muitos chamam língua espanhola, temos o termo «conciencia», que é a consciência conotada com a moral e o termo «consciência», que significa conhecimento. O interessante, como curiosidade divertida, é que muitos portugueses, conhecendo ou não o castelhano, em vez de pronunciarem consciência, pronunciam erradamente conciencia, que é um termo que a língua portuguesa não regista nem está previsto nas tropelias da aberração conhecida como «acordo ortográfico».

Mas, para além das divergências de nomenclatura, que em boa verdade apenas causam dificuldades de conciliação e entendimento, podendo dar-se de barato que serão vantajosas para tornar distintas as escolas e as origens lexicais, temos a popularização de termos que rebaixam os conceitos. Hoje em dia, não há quem não fale do astral: o astral está em baixo, o astral está em cima, o corpo astral, isso está no astral, etc. É o preenchimento do vazio com o vazio.

Ora bem, àquilo a que os hermetistas tradicionais chamavam mediador plástico, isto é, um modo de exteriorização da alma, da consciência psíquica, corresponde a seguinte pluralidade de designações:

KA (1)

Egípcios

JIVA

Sânscrito

NEPHESCH

Cabalistas

KAMA RUPA (2)

Teosofistas seguidores de Blavatsky

CORPO EMOCIONAL

Teosofistas seguidores de Max Heindel

CORPO ASTRAL

Linguagem popularizada

CORPO PSÍQUICO

Rosacruzes

ENVOLTÓRIO FLUÍDICO

Martinistas

1 - Segundo outros entendimentos, KA deve considerar-se equivalente ao duplo etéreo.

2 - Primitivamente, a fundadora da Sociedade Teosófica, Blavatsky chamou de Linga Sharira o corpo astral, vindo mais tarde a optar por Kama Rupa, reservando Linga Sharira para designar o duplo etéreo.

A lista, evidentemente, não é exaustiva. De qualquer forma, e vem a talhe de foice, expressamos a nossa preferência por CORPO PSÍQUICO e chamamos à vulgarizada viagem astral PROJECÇÃO PSÍQUICA. Pensamos que estas expressões são mais simples, mais expressivas e mais identificativas dos respectivos fenómenos, mas se o leitor preferir as expressões mais vulgares popularizadas pela literatura de divulgação, fique à vontade, desde que nos consigamos entender.

O Corpo Psíquico é uma resultante da reacção mútua de duas energias de sinal contrário: a energia preponderantemente negativa que os rosacruzes chamam de espírito e que cristalizada constitui o corpo físico, e a energia positiva da alma, ou chispa divina no homem.

Convém que se sublinhe que o corpo psíquico não é a alma, mas a sua exteriorização, intimamente ligada à força vital, que os orientais chamam prana (Índia) ou chi (China). Deve ler-se «qui», podendo escrever-se «Ki», como em Reiki.

O controlo desta energia pela potência da alma que é a vontade — a sua direcção inteligente — é que permite exercer as chamadas terapias espirituais e utilizar os pressupostos e as técnicas que têm sido atribuídas ao magnetismo animal, conceito demasiado equívoco e por demais «mecanicista».