Bhagat Kabir Yi (San Kabir), ou simplesmente Kabir, ganhava o sustento como tecelão, mas foi um poeta, músico, místico e reformador religioso, que merece bem ser considerado como uma das vozes mais profundas e conseguidas do misticismo indiano expresso em verso.
Venerado ainda hoje como santo por muçulmanos, hindus e siks, teve como mestre espiritual (guru) Ramananda, também este um dos grandes santos-poetas da Índia medieval.
O pensamento de Kabir sofreu necessariamente as fortes influências do seu tempo e lugar, onde muito pesava a filosofia dos grandes místicos persas Sadi e Hafiz. Kabir foi um conciliador dos misticismos islâmicos e hindus; as suas expressões metafóricas comportam por igual crenças hindus e muçulmanas.
Ao ter adoptados as crenças no Karma e na reencarnação e repudiado a idolatria, o ascetismo e o sistema de castas, não é possível dizer-se se Kabir era sufi, vedantista ou vishunista, pese embora o seu nome a denotar claramente ascendência islâmica. Ele próprio se dizia filho de Alá e de Rama; os muçulmanos chamavam-lhe santo sufi e os hindus brahman.
Pregava a religião mística do amor, de idênticos contornos dos grandes poetas árabes e persas; uma pregação exigente, que requeria um grau de cultura espiritual muito elevado, susceptível de contrariar as crenças e as filosofias do seu tempo e lugar, o que lhe valeu muitas perseguições, que soube contornar.
Desprezava a santidade profissional dos ascetas e louvava «o gozo e a beleza derramados no mundo pela “Unidade Infinita”».
«Deus não está nem no templo nem na mesquita, está com todos os que o buscam», proclamava Kabir, concitando o espírito persecutório do poderoso clero de Benares, sua cidade natal.
«Onde me procuras, meu servidor?
Repara: estou junto a ti.
Não estou no templo,
não estou na mesquita,
não estou no santuário de Meca
nem na morada das divindades hindus.
Não estou nos ritos,
não estou nas cerimónias,
não estou no ascetismo nem nas suas renúncias.
Se me buscas de verdade,
então me verás e há de chegar o momento
em que por fim me encontres.»
KABIR
(Versão portuguesa de Abdul Cadre)
«O Senhor está em mim,
O Senhor está em ti,
como a vida está em cada semente.
Renuncia ao falso orgulho
e procura em ti o teu Senhor.
A Sua luz tem os raios de um milhão de sóis.»
KABIR
Versão portuguesa de
Abdul Cadre