sexta-feira, maio 12, 2017

DO ABSOLUTO EM IBN ARABI

 

 

Vendas Novas 13 de Novembro de 2013

Se é que não estou a deturpar o pensamento de Ibn Arabi, nele o ontológico prevalece sobre o teológico, o que, de certo modo, constitui uma heresia, se se tomar à letra o que diz o Alcorão. O seu entendimento de que Deus é uma forma fenoménica, isto é, manifestada, ou adaptada por algo precedente – O SER ABSOLUTO – levaria à histeria qualquer wahabita primário. Sorte de Ibn Arabi, porque Muhammad ibn 'Abd al-Wahhab veio ao mundo muitos séculos mais tarde.

Para Ibn Arabi, o Absoluto pode conceber-se em cinco planos: aquele que lhe é próprio – o da sua absolutidade – e mais quatro da sua manifestação (ou descida):

- O Absoluto manifestando-se como Deus;

- O Absoluto manifestando-se como o Senhor de tudo:

- O Absoluto manifestando-se como mundo sensível.

Este último plano é o dos minerais, vegetais, animais e humanos; é o plano da mundanidade.

O plano mais elevado, digamos assim, seria o do Uno, que em Ibn Arabi não significa nem conjunto de muitos nem o oposto a estes, dado que neste plano o conceito de oposição não faz qualquer sentido. Aqui, «uno» antecede qualquer manifestação, sendo, todavia, a sua fonte.

Todos estes planos, entendidos como uma descida até ao mundo onde vivemos e agimos, implicam a possibilidade de ascensão, cujo corolário é a chamada «união mística».

No pensamento de Ibn Arabi, o mais interessante, porém, é o conceito de perpétua criação, ou seja: o Universo não foi criado e pronto, está permanentemente a ser criado (ou recriado); ele existe e não existe a cada instante…

Trazendo à colação os conceitos rosacruzes de vibração e de teclado cósmico, podemos chegar também às metáforas de Agostinho Da Silva a este propósito e comparar a criação (atendendo a Ibn Arabi) com a feitura de um filme, que se constitui com imagens paradas, as quais, fazendo-se suceder (como sucedem as vibrações), produzem a sensação do movimento.

No filme da manifestação cósmica total, tudo se aniquila e recria a cada ínfimo instante, razão pela qual não podemos repetir a mesma vivência em momentos distintos; não podemos, nos dizeres de Hiraclito, banhar-nos duas vezes nas águas do mesmo rio.

Aceite este modo de pensar, pouco importarão as especulações à volta da natureza de Deus, da Sua vontade, ou da sua palavra na boca dos profetas – coisas da Teologia –, importará bem mais a descoberta dos caminhos de realização e ascensão, admitindo que cada instante de recriação cósmica permite novas e mais gradas qualidades.

Abdul Cadre