segunda-feira, novembro 20, 2017

DILUCIDAÇÕES

A mente humana – objectiva e subjectiva – é, em nós, uma limitação da mente total e absoluta a que os rosacruzes chamam de Mente Cósmica. É por virtude desta potência e disposição que sentimos infundidas em nós todas as capacidades mentais que nos caracterizam como humanos. Um pouco mais aquém e eramos bichos, na melhor das hipóteses animais de companhia.

Há quem chame à mente objectiva mente concreta e à mente subjectiva mente abstracta, o que me parece nomenclatura pouco feliz. Todavia, é bom que se saiba que não existem tais mentes como realidades separadas, trata-se do entendimento de funções, de funcionalidades, porque a mente é só uma, não fraccionável. As ondas não fraccionam o mar, levam apenas a que a nossa atenção se aperceba dos pormenores.

Funcional, porquê? Vejamos: a mente objectiva permite-nos atravessar a rua sem sermos atropelados, mas é um instrumento limitado de simbolização, pois só pode socorrer-se do que já foi, usando com a eficácia possível o pensamento dedutivo, sendo por isso simplesmente racional, nem mais se lhe pode exigir; a mente subjectiva, por outro lado, alimenta-se das sensações, das emoções, das intuições e dos sentimentos, usando privilegiadamente o pensamento indutivo e o pensamento analógico.

Há racionalistas empedernidos que se vangloriam de usarem exclusivamente a mente racional. Iludem-se. Felizmente para eles – e para todos nós – tal não é possível. A sê-lo, cuidado, que a inteligência artificial está aí, disponível para as substituições.

quinta-feira, novembro 16, 2017

KABIR – 1440-1518

Bhagat Kabir Yi (San Kabir), ou simplesmente Kabir, ganhava o sustento como tecelão, mas foi um poeta, músico, místico e reformador religioso, que merece bem ser considerado como uma das vozes mais profundas e conseguidas do misticismo indiano expresso em verso.

Venerado ainda hoje como santo por muçulmanos, hindus e siks, teve como mestre espiritual (guru) Ramananda, também este um dos grandes santos-poetas da Índia medieval.

O pensamento de Kabir sofreu necessariamente as fortes influências do seu tempo e lugar, onde muito pesava a filosofia dos grandes místicos persas Sadi e Hafiz. Kabir foi um conciliador dos misticismos islâmicos e hindus; as suas expressões metafóricas comportam por igual crenças hindus e muçulmanas.

Ao ter adoptados as crenças no Karma e na reencarnação e repudiado a idolatria, o ascetismo e o sistema de castas, não é possível dizer-se se Kabir era sufi, vedantista ou vishunista, pese embora o seu nome a denotar claramente ascendência islâmica. Ele próprio se dizia filho de Alá e de Rama; os muçulmanos chamavam-lhe santo sufi e os hindus brahman.

Pregava a religião mística do amor, de idênticos contornos dos grandes poetas árabes e persas; uma pregação exigente, que requeria um grau de cultura espiritual muito elevado, susceptível de contrariar as crenças e as filosofias do seu tempo e lugar, o que lhe valeu muitas perseguições, que soube contornar.

Desprezava a santidade profissional dos ascetas e louvava «o gozo e a beleza derramados no mundo pela “Unidade Infinita”».

«Deus não está nem no templo nem na mesquita, está com todos os que o buscam», proclamava Kabir, concitando o espírito persecutório do poderoso clero de Benares, sua cidade natal.

Kabir

«Onde me procuras, meu servidor?

Repara: estou junto a ti.

Não estou no templo,

não estou na mesquita,

não estou no santuário de Meca

nem na morada das divindades hindus.

Não estou nos ritos,

não estou nas cerimónias,

não estou no ascetismo nem nas suas renúncias.

Se me buscas de verdade,

então me verás e há de chegar o momento

em que por fim me encontres.»

KABIR

(Versão portuguesa de Abdul Cadre)

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«O Senhor está em mim,

O Senhor está em ti,

como a vida está em cada semente.

Renuncia ao falso orgulho

e procura em ti o teu Senhor.

A Sua luz tem os raios de um milhão de sóis.» ​

KABIR

Versão portuguesa de

Abdul Cadre