sábado, abril 18, 2020

A PROPÓSITO DE ILUMINAÇÃO

Tenho recebido alguns remoques a propósito do quanto insisto que as conversas de eu inferior e eu superior são disparatadas, que só há um eu e que chamar-lhe ego é só ir ao latim, que o foi buscar ao grego, para dizer a mesma coisa. Se deixassem o ego para o Freud, não faziam um favor ao Freud, mas a vós mesmos.

Estarei a falar para os peixes? É possível, mas não me importo. Sei bem que o vírus da lepra new age, que afecta as almas desprevenidas é muito forte e eu não tenho a veleidade de ter a vacina. Além disso, não quero para mim o exclusivo da divisa que tomei de Bernard Shaw. «Não me dêem conselhos, deixem-me errar por mim próprio».

A história do eu superior e eu inferior deve ser sequela ainda do serviço militar obrigatório, aí é que havia superiores e inferiores: os magalas e os graduados. A mania das hierarquias levou até ao ponto de haver oficiais superiores, todavia não se chamando inferiores aos que não eram superiores. E acima destes todos havia ainda os oficiais generais. Uma pirâmide egípcia completamente deslocada.

Mas vamos lá ao eu (ou ego, que é a mesma coisa). Quando se ensina aos estudantes rosacruzes as nuances do eu, falando-se do eu objectivo e do eu subjectivo, contrariamente ao que muitos acabam por entender, não é de eu superior e eu inferior que estamos a falar, não estamos a falar de duas coisas separadas, mas das formas de acção de uma coisa só: a mundana, que é conferível pelo conhecimento científico e conciliável com os mais; e a pessoal e intransmissível. Ou seja, eu posso relatar a minha dor, mas quem ouve o relato jamais poderá saber como é a minha dor; eu posso desenhar uma circunferência, dirão uns que está bem desenhada, outros que está muito torta, mas todos saberão que é uma circunferência.

O ego, ou o eu, como quiserem, é a maior conquista dos seres inteligentes; é aí que reside a autoconsciência. É a iluminação deste ego que transforma o neófito em discípulo aceite. O ego é uma unidade de consciência da Grande Fraternidade Branca; é iluminado que o discípulo aceite toma lugar aos pés do Mestre.

Quando falo em transformar, há que ter em atenção que nenhum eu se transforma no que não é, apenas vai assumindo gradualmente aquilo que já é.